Grupo Arco – Íris completa 30 anos neste mês, de resistência e empenho à comunidade LGBTQI +

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Na luta pela solidariedade e igualdade de gênero, eles resistem ao tempo e lutam por direitos fundamentais,  mas também comemoram a  cada batalha o sabor das conquistas em seu dia a dia. Estamos falando do Grupo Arco-Íris.

Por André Felix | Fotos: Divulgação

 

Localizado no coração do centro do Rio de Janeiro, o Grupo Arco-Íris tem como objetivo e foco principal a defesa das lutas da comunidade LGBTQI + . São 30 anos de muito combate no sentido de construir uma identidade estimulada por uma série de ações educativas que  contemplem a conquista da cidadania, em seus vários aspectos.

Para melhor conhecer todo o trabalho pioneiro dessa ONG, com início em um período ainda mais discriminatório do que temos hoje na atualidade, é importante entender um pouco de sua história relatada pelos próprios membros que compõem a sua realidade, tanto do ponto de vista social como jurídico.

É o que nos conta a partir de agora, dois fundadores do Grupo Arco-Íris: Augusto Andrade e Carlos Freitas, através de suas experiências ao longo desses anos, e suas expectativas e sonhos de futuro para o movimento de pautas identitárias, por eles liderados.

“Bom, o  Grupo surgiu em 1993, no dia 21 de maio, e nós na época éramos um casal. Tínhamos ido a São Francisco, na Califórnia, no bairro Castro, especificamente para um grupo LGBTS. Ficamos muito encantados pela comunidade, por ali estarem de mãos dadas, sem desafetos em público, e passamos a imaginar que, talvez no Brasil pudéssemos construir um caminho para que isso no futuro fosse viável. Logo, em 1995, o Grupo Arco – Íris, junto com outras instituições acabaram organizando e sediando a 17° Conferencia Internacional de gays e lésbicas, no Posto Seis, na praia de Copacabana”. Foi quando tudo começou, completou  Júlio Moreira – Diretor Sócio Cultural do Grupo Arco-Íris.

Além do acolhimento às pessoas, o Grupo Arco – Íris atua também nas questões jurídicas, psicológicas, testes para HIV, SÍFILIS e Hepatites B, C; em conjunto com a Fiocruz, Secretarias Estadual e Municipal de Saúde.

“A gente atua também na proposição de políticas públicas, ajudando a construir o programa nacional “Brasil Sem Homofobia”, no primeiro governo Lula e também, o programa estadual “Rio sem LGBTFobia” inaugurado no governo Cabral, aqui no estado do Rio. Ofertamos cursos profissionalizantes, junto com o SENAC Rio, em várias áreas para empregabilidade: Administração, logística e também aconselhamento na construção de currículos. Através da pandemia da COVID, começamos  a cadastrar famílias LGBTs. Sempre conseguimos doações de alimentos para a comunidade que precisa, possuindo o cadastro de mais de duas mil famílias. O pessoal sempre chega na nossa instituição também, doando roupas, sapatos, produtos de higiene entre outras coisas”. Afirma Júlio Moreira.

Quase fechou as portas

Em 2015, o Grupo, que vinha se mantendo com a ajuda de voluntários, algumas contribuições de instituições internacionais e parcerias locais, não tinha mais condições  de custear o aluguel de sua sede — que ficava na  rua Tenente Possolo, também no Centro do Rio. O custo era de R$ 5 mil por mês. O diretor sociocultural afirmou,  que o Grupo “tomou um calote”, na época, de cerca de R$ 400 mil do Governo do Estado, que não repassou a verba destinada a cobrir parte das despesas da Parada do Orgulho LGBT do ano de 2014, realizada em novembro daquele ano. Esse seria o principal motivo para as dívidas da instituição aumentarem. Responsável pelo repasse da verba, a Superintendência de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos (SUPERDIR) da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos não se pronunciou sobre o assunto até hoje.

“Hoje tenho oito meses que faço parte do Grupo Arco – Íris, que num momento que eu estava em situação de vulnerabilidade, eles me acolheram. Têm dois anos que larguei o Crac,  e hoje estou fazendo parte dessa equipe, como uma mulher Trans, que teve essa oportunidade. O povo tem que largar esse rótulo babaca, inútil que todo o LGBT faz programa. Aqui é um local onde nos sentimos abraçados, aqui nós temos voz; então, espero que daqui para frente tenham mais Trans no mercado de trabalho”. Disse Jacqueline Porttinelly – Recepcionista no Grupo Arco – Íris.

Futuro do Grupo Arco – íris

Futuramente vamos abrir o espaço mais focado em moda e arte. A gente tem um projeto, junto com Almir França, que é estilista chamada Escola de Divinsch, que dá a formação profissional na parte de moda: costura, manequim, desfile, e que é muito focada para a população Trans. A gente vai lançar, agora em setembro, uma grande Exposição Especial 30 anos do Arco – Íris, casada com o movimento LGBT, contextualizada com o que rolou nesses anos todos e essa exposição vai ser na estação do Metrô Rio da Carioca. Então o Grupo sempre está em evolução, criando sempre coisas novas, focadas também em controle social e assistência política; consolidação de projetos de leis, com orçamento a serem executados independentemente das gestões, que possam estar ligados no momento”.

Dados sobre violência LGBTQI +

Muito se avançou na questão dos LGBTS. Um grande exemplo foi a conquista da União Civil entre pessoas do mesmo sexo, que completou recentemente 10 anos. Todavia, em questão da violência, isso está longe do fim. Segundo um levantamento da coordenação do programa estadual Rio sem LGBTIFobia, da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, o órgão registrou 312 denúncias de injúrias homofóbicas no estado em 2022 – em média, uma vítima a cada 28 horas. Somente em 2023, de janeiro a 15 de maio, foram registrados 93 ocorrências.

Em nível nacional, a coisa se complica ainda mais. No Dossiê Observatório de Mortes e Violências contra LGBTQIA+ no Brasil, mostra que, no total, foram 273 vítimas de crimes de identidade de gênero e sexual. Ou seja, dois assassinatos de pessoas LGBT a cada três dias em 2022. As mortes são, principalmente, de mulheres e homens Trans com: 159 ocorrências cerca de (58%). Os homens gays vem em seguida, com 97 óbitos (35% dos casos). As mortes, em sua grande maioria, se dão em circunstâncias violentas, com armas de fogo, esfaqueamento, espancamento e apedrejamento. Outro ponto que chama atenção é que 49% dos casos acontecem em lugares públicos. Os registros dessa violência acontecem nas regiões Nordeste (118 mortes), seguido por Sudeste (71 mortes) e Centro-Oeste (37 mortes). Tudo isso, confere ao país o vergonhoso título que mais mata no mundo e pelo 14º ano seguido.

Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ (Origem histórica)

De um confronto entre policiais e manifestantes nos Estados Unidos, em 28 de junho de 1969, surgiu a data em que se comemora o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. O protesto acontecia em defesa do clube gay Stonewall Inn, aberto em 1967, no coração do boêmio bairro de Greenwich Village, em Nova York. Naquela época, apesar da circulação de ideias progressistas na região, as leis contra homossexuais eram rígidas, colocando em risco aqueles que ousavam demonstrar afeto não heterossexual em público. Para escapar da regulamentação estadual que proibia os homossexuais de consumir bebidas alcoólicas, o mafioso “Fat Tony” Lauria fundou o Stonewall Inn como um clube privado. Embora as batidas policiais fossem relativamente comuns no estabelecimento, uma investida surpresa em 1969 tomou rumos inesperados, resultando no que ficou conhecido como “Rebelião de Stonewall” –um levante de seis dias em defesa dos direitos da população LGBTQIA+.

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