Prédio foi idealizado originalmente para sediar a Universidade Comercial Conde Francisco Matarazzo (legenda da foto)
Ponto turístico da capital, sede do Governo do Estado abriga acervo de arte e objetos históricos que remete às raízes paulistas e reúne histórias de ilustres visitantes.
De Redação 8K / Fotos: Arquivo
O Palácio dos Bandeirantes completa, neste mês de abril, 58 anos como a sede do Governo de São Paulo. Ao longo dessas quase seis décadas, o prédio no bairro do Morumbi, na zona sul da capital paulista, coleciona histórias e preserva a memória artística e cultural do estado.
No histórico imóvel, moraram dezenas de governadores e foram recebidos centenas de chefes de estado, autoridades estrangeiras, artistas, esportistas, religiosos e personalidades dos mais variados segmentos da sociedade.
E essa história é acompanhada de perto por servidores que há décadas frequentam diariamente as mais de 300 salas do palácio, construído ainda na década de 1940 e que, a partir de 1965, se tornou a sede do governo estadual.
“Depois de tanto tempo, a gente sente mesmo como se fosse uma extensão de casa. Acho um privilégio trabalhar num lugar em que se desfruta dessa maravilha de paisagem, essa diversidade de verde, de pássaros. E a oportunidade de lidar com tantas personalidades, de ver a história acontecendo”, afirma Regina Rodrigues. Em 2023, ela completa 35 anos de atuação no cerimonial do Palácio dos Bandeirantes.
O diretor técnico de departamento da Casa Civil, Nelson Essaki, de 75 anos, é um dos servidores com mais tempo de casa que ainda estão na ativa. O funcionário “bate o cartão” no Bandeirantes há 46 anos.
“Quando eu prestei concurso, pela minha classificação, eu pude escolher o Palácio dos Bandeirantes. Escolhi pelo conjunto da obra: o jardim, que é enorme, as obras de arte, a arquitetura, tudo aqui me atraiu. Gosto daqui, sempre gostei. Não me vejo trabalhando em outro lugar”, afirma.
Histórias e lembranças
Os funcionários mais antigos lembram das histórias que até hoje permeiam o imaginário do corpo de servidores. Cerimonialista que por 36 anos foi encarregada de organizar as visitas de delegações internacionais ao Bandeirantes, Christine Starr guarda tantas histórias sobre o local que, em 2013, lançou um livro de memórias.
“Passei muito tempo da minha vida dentro do Palácio. Tenho orgulho da nossa sede. É um monumento belíssimo, com uma vasta galeria de obras de arte e com muitas histórias. Só tenho boas lembranças, minha vida foi muito rica lá dentro”, afirma.
O cardápio de histórias de Christine é extensa: ela lembra de detalhes das visitas de figuras como o presidente norte-americano Ronald Reagan, em 1982, com forte esquema de segurança que contou com atiradores de elite e cachorros rastreadores. Reagan presidiu os EUA de 1981 a 1989 e foi o único líder norte-americano em mandato em visita oficial ao Bandeirantes.
Ou quando Nelson Mandela, em 1991, teve de ser amparado por um casaco emprestado pelo então governador Luiz Antônio Fleury por conta do frio intenso na capital paulista. Antes de embarcar de volta, já dentro do avião, o líder sul-africano se lembrou da blusa e voltou para devolvê-la a Fleury, que já imaginava ter “perdido” o casaco.
Outro episódio lembrado com carinho por ela é o jantar oferecido pelo governo à princesa Daiana e ao príncipe Charles, da Inglaterra, no início da década de 1990. “Foi o único jantar em que não faltou nenhum convidado”, relembra Christine.
As visitas de figuras internacionais ao Bandeirantes incluem ainda personalidades como Madonna, Bono Vox, Keanu Reeves, Naomi Campbell e Kofi Annan, entre vários outros. Das celebridades nacionais, a sede do governo paulista recebeu nomes como Pelé, Maurício de Souza e Fernanda Montenegro. Em 2007, o Palácio também recebeu o Papa Bento XIV.
Além das visitas, homenagens e condecorações, o salão nobre do prédio foi utilizado para velórios de personagens famosos, como a apresentadora Hebe Camargo e a tenista Maria Esther Bueno, e dos ex-governadores Franco Montoro, Mário Covas e Orestes Quércia.
Arquitetura e acervo artístico
O imóvel foi idealizado originalmente para sediar a Universidade Comercial Conde Francisco Matarazzo, mas acabou adquirido pelo Estado em 1964. No ano seguinte, a sede da gestão paulista foi transferida do Palácio dos Campos Elíseos, no centro histórico, para o imóvel no alto do Morumbi.
O projeto arquitetônico inicial, dos italianos Marcello Piacentini e Vittoria Ballio Morpurgo, elaborado ainda no final da década de 1930, previa linhas abstratas, colunas, muros lisos e ampla fachada. Posteriormente, o projeto foi sendo modificado para um estilo mais eclético, de linhas também neoclássicas, configurando a fachada atual.
Decisões importantes sobre a vida política e administrativa estadual são tomadas em espaços compartilhados com coleções de arte e objetos históricos de diferentes períodos históricos e artísticos da cultura nacional. São cerca de 4 mil itens espalhados pelas salas, corredores e salões: pinturas, esculturas, desenhos e gravuras, móveis, conjuntos de louças, prataria e tapeçaria dos séculos 17 ao 21. No final da década de 1970, o edifício foi aberto à visitação pública, assumindo sua vocação de palácio-museu.
Atualmente, o acervo passa por uma reestruturação para recuperar a memória dos ambientes. Exemplo disso é o retorno da coleção de louçaria do Acervo dos Palácios para o Salão dos Pratos. O novo recorte curatorial será focado na história de São Paulo e do Brasil, entre outros temas.
A ideia é conectar a tradição e o passado do Governo do Estado com a contemporaneidade e aproximá-los da população.
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