O “Novembro Azul Diabetes” é uma campanha mundial em prol da conscientização sobre o Diabetes, que alerta para a prevenção da doença e de suas complicações, com o foco principalmente no tratamento multidisciplinar.
O Rio ocupa, no ranking nacional, um triste lugar de destaque, devido à alta incidência da doença no estado, liderando assim sua prevalência em relação ao restante do país. Entidades que representam a luta contra esse distúrbio resolveram criar, lideradas pela Associação Carioca de Diabetes e pelo Lions Clube, um movimento onde propõem, através de um documento, 7 reivindicações consideradas fundamentais para o controle e, principalmente, para a prevenção do avanço dessa disfunção metabólica tão grave.
A proposta das 7 medidas tem como objetivo pressionar o poder público a ter uma ação mais efetiva, trazendo como exemplos dados do próprio Ministério da Saúde para ilustrar o Rio de Janeiro como o centro urbano mais concentrador de casos da doença no país.
E o alerta às autoridades e aos agentes públicos é que, se os males do diabetes não forem tratados adequadamente, vão evoluir para sequelas como amputação de membros, cegueira, insuficiência renal e doenças cardíacas que frequentemente levam ao óbito.
Para mais esclarecimentos, o Portal 8K foi ouvir o endocrinologista Izidoro Flumignan, diretor da ACD – Associação Carioca dos Diabéticos e assessor do Diabetes dos Lions Clubes, que fala a respeito da situação do diabetes no mundo e suas consequências em países como o Brasil e, mais precisamente, no Rio de Janeiro.
Um dos quesitos desse Manifesto Público divulgado pelas Associações de Diabetes do Rio de Janeiro fala dos Educadores em Diabetes. Qual é o papel central desses profissionais no tratamento do Diabetes?
O diabetes é uma síndrome complexa que exige diversas habilidades terapêuticas simultâneas, como dietas, exercícios, medicamentos, monitoramento e autocuidados. O Educador em Diabetes vem contemplar essa necessidade de ensinar às pessoas com diabetes a fazer uso de cada uma das habilidades de forma eficaz. A ideia é que esse papel do Educador seja feito por um profissional de saúde, com capacitação adicional para lidar com esses pacientes, além de portarem, obrigatoriamente, currículo padronizado e certificado pela Secretaria Estadual de Saúde.
E qual é a sugestão de Lei que o grupo reivindica?
A verdade é que essas associações que lutam na trincheira pelos direitos da pessoa com diabetes, ganharam muito protagonismo a partir do surgimento da pandemia do Covid-!9, por se tratar de um grupo de risco, vulnerável pela contaminação. Apesar de o Brasil ter uma razoável legislação para as pessoas que sofrem dessa síndrome, como atendimento pelo SUS, incluindo medicação e insumos básicos gratuitos, porém, na medida que cresce a demanda pelo tratamento, acabam por se tornarem insuficientes, tanto no aspecto da qualidade, como da quantidade disponibilizada. Esses pacientes estão precisando de medicações e insumos mais atualizados, além de acompanhamento terapêutico mais eficaz.
Por isso, as associações que os representam reclamam também a permissão legal de atuarem dentro das unidades públicas de saúde, uma vez que, desta forma, estão próximas de onde os problemas acontecem, e essas medidas preveem reformas na legislação.
E em relação à Lei da Hemoglobina Glicada inspirada pelo senhor e sancionada pelo governador Cláudio Castro, já está regulamentada?
A Lei da Hemoglobina Glicada é um grande avanço na medicina preventiva do diabetes no Rio de Janeiro, e agora no Maranhão também. Através da análise dos grandes dados provenientes dos laboratórios públicos e privados pela Secretaria Estadual de Saúde, será possível identificar o diabetes ainda em sua forma embrionária, o que permitirá uma melhor atuação na reversão da doença, além de detectar um diabético mal controlado para otimizar seu tratamento e prevenir as suas temíveis complicações e morte precoce. Tudo isto com baixo custo e grandes benefícios.
Qual a importância do profissional da área de Podologia para o tratamento e prevenção do diabetes?
Segundo o Ministério da Saúde, só na região Sudeste do Brasil amputa-se um pé a cada 3 horas. Isso é alarmante, pois equivalente a uma população inválida de uma cidade pequena do interior. Essa condição tem repercutido negativamente em todo o sistema de saúde e impactado a Previdência Social do país. Por isso, a importância de inserir a podologia no serviço público de saúde, para o exame e cuidados dos pés, como a escolha dos sapatos apropriados, evitando sandálias, mantendo a pele hidratada, unhas cortadas e calos tratados. Estudos comprovam que todos esses cuidados profissionais, previnem mais de 70% das amputações.
E as Brigadas em Diabetes, como funcionam?
O que acontece hoje em dia é que uma pessoa é diagnosticada com diabetes no SUS é encaminhada ao médico, que prescreve uma medicação e encaminha ao nutricionista, e para por aí. A Brigada em Diabetes que propomos é o desdobramento desse tratamento, através de uma equipe de saúde que tenha a certificação de Educadores em Diabetes e que esses pacientes se tornem clientes habituais dessa equipe de profissionais, criando vínculo de confiança.
Qual a importância das atividades das Associações de Diabetes dentro das Unidades dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família?
É para implementar sua atuação nas Unidades da Saúde de forma humanizada, ficando mais próximos dos atendimentos, dos apoios educativos, do conforto físico e emocional, além da orientação terapêutica. É de difícil adaptação conviver com uma ferida no pé que não cicatriza, uma perna amputada, ou se tornar cego.
O fator da alimentação inadequada é quesito fundamental para a disseminação da doença. Qual seria, então, a solução para barrar esse risco?
A obesidade é a locomotiva que puxa o diabetes tipo 2 para cima da montanha-russa. As pessoas se tornam obesas principalmente pela alimentação rica em açúcares, na forma de refrigerantes, massas, doces e biscoitos. O Ministério da Saúde já lançou um guia da alimentação saudável, porém não pode ficar na gaveta, precisa ser divulgado, através de programas de campanhas educativas. O que chama também a atenção é que os alimentos que provocam obesidade são muito mais baratos do que os saudáveis. Um litro de refrigerante, por exemplo, custa R$ 5, enquanto o de suco de laranja chega a R$ 15. A política de preços dos alimentos contribui assim, no Brasil, para o aumento de uma população obesa e doente.
Toda essa pauta requerida de 7 itens foi levada ao secretário estadual de Saúde, Alexandre Chieppe. A partir dessa apresentação, qual será o encaminhamento do pleito apresentado pelo grupo ao gestor?
Bom, o secretário Alexandre Chieppe nos recebeu e ouviu todas as inquietações do grupo sobre o tema diabetes. Ele admitiu serem justas e necessárias as tomadas de providências com agilidade no atendimento às nossas solicitações. Agora cabe a nós também, do grupo de representantes dessas associações, o papel em acompanhar de perto e cobrar o desenrolar de todo esse processo, para a implantação de políticas públicas de saúde que favoreçam pessoas com diabetes e suas sequelas, que trazem enorme prejuízo, não só de ordem pessoal, mas que também têm um ônus socioeconômico muito alto para o país.